A parede branca do quarto é um papel à espera de palavras ou traços. Ninguém ao redor para escrever ou desenhar e no entanto ela continua a pedir que lhe preencham o vazio. Apenas algumas sombras tênues e indefinidas são projetadas na parede fria. O branco permanece branco. Nenhuma cor, nenhum sentido. Um quadro sem imaginação, mudo.
Só há silêncio no interior da casa inabitada, o silêncio mórbido das tardes que se repetem iguais. A parede é a tristeza dos que esperam na imobilidade um sinal de afeto. É a incomunicabilidade, a falta concreta, compacta. Vazio feito de tijolos e argamassa.Um universo sem movimento.
O tempo passa e o branco começa a amarelecer. Depois de algumas dezenas de anos, desaparece quase por completo. A parede envelheceu; mas ainda espera, em vão, por um simples traço, um rabisco que seja.
A casa abandonada é demolida. Da parede só restam tijolos quebrados, destroços sobre destroços. O branco agora é a poeira suspensa no ar, é o próprio tempo impregnando a cidade. Está livre de si mesma, já não há querer, apenas a serena essência daquilo que sempre foi.
O branco desaparece sem deixar
qualquer vestígio. Leva uma parte daquilo que não conseguimos
exprimir com palavras e se perde feito cinzas entre os dedos.