O caminho era longo, vielas, morros de altas subidas tudo em silêncio.
O céu sempre ali em seu azul profundo trocando de cor para o azul
violeta de quando a noite vem...
Poeira de estrelas e um pedaço de lua minguante, meu coração
na mão, meus olhos cheios d"água de gratidão por esta
vida.
Encontro um homem vendendo pequenos objetos e o seu olhar é
de fome e sofrimento, ele passa por mim falando com sua solitude. Eu o
chamo senhor, senhor, desejo comprar-lhe algo, também tenho pouco
dinheiro e também vendo coisas enquanto busco trabalho, mas desejo
dividir consigo o meu amor tão grande por este fim de tarde.
E nos damos as mãos respeitosos e emocionados, já não
está ele mais só nem eu...
Peço que Deus o acompanhe e ele pede por mim também,
estamos juntos numa cidade enorme e os carros cortam a avenida.
Atravesso a rua e compro pequenos legumes antes de chegar a casa, lá
me espera o afeto de Miguel meu filho e eu apresso o passo por esta ventura.
A porta se abre e eu caminho sem ruídos mas ele já grita
minha mãe chegou e eu pergunto como soube ao que ele responde fagueiro:
é o amor...
Marlene Póvoa