É no amor demais
que escrevo.
Do corpo expulso todas a vozes contidas,na agonia são riscadas
as minhas linhas.A alma insiste em perseguir palavras fugidias,deixo-a
de lado e sigo com as falas dos sentidos. Os Poetas fecundam escritas fartas,
fazem versos longos e breves rimas, todos nascidos bentos, vingados em
glória. De parcas letras pego o verbo pelas ruas, cato as sobras
que deixaram nas esquinas.Digo apenas do que me rasga o peito, dos incomodamentos
de dores fincadas no colo do útero dessa minha miúda vida.Escrevo
pra ocupar os vazios, calar os gritos das gentes que se juntaram em mim,uivando
à revelia das rotinas de lua-cheia, misturados nas minhas entranhas,
inseridos em cada canto dos meus caminhos.Carrego nome pequeno que me deram
por batismo, nele todos os nomes se emendam aproveitando o encurtamento,se
grudam não como acessórios mas matrizes transformadas em
células vivas. Meu mundo é dos inconformados e confundidos,
não busco por destino as páginas de livros, o bordado das
palavras que faço sai das tintas arrancadas de ventres que carrego
e só careço de papel e lápis para o traçado
de tortas linhas.Vou pegar cadeira e mesa,levar matula, sentar na Praça
dos Paraíbas, matizando cartas, bilhetes, recados de crenças
e saudades, mascarando dores com piedosas e singelas mentiras, dizendo
que a vida vai boa demais, que o Rio de Janeiro é uma maravilha,
que as lajes dos puxadinhos foram batidas no final de semana e todos os
irmãos retirantes se achegaram,como só se unem nas procissões
do Padim Cícero, que Raimundos encontraram biscates, que Marias
conseguiram faxinas, que os meninos tão ficando alegrinhos e sabidos
nos aprendizados de ofícios, que no Natal vão seguir verdes,
pintados dessa esperança tinhosa e atrevida,em Santa Romaria, levando
economias suadas, prendas e mimos comprados nos barateamentos das ruas
atropeladas e atropelantes do Saara,tudo embrulhado na macabéa bondade
nordestina dessa minha gente Severina.
Para minhas mal traçadas linhas, nenhum outro carecimento é
devido que não seja tal dita.
Nana Merij