FUTURÍSTICA

     Anteontem sentado na cozinha sábado acho eu sorvendo única derradeira cerveja vendo a tarde trazendo penumbra penumbra cada vez mais turva de mansinho a tarde indo embora carregando sol levando soneira que dá cerveja de tarde Rodrigo chegou na porta sapecou:
     - Paiê sabia que você não vai morrê nunca?
     Disse hum? sacudi despreparo de receber questão assim busquei pedaços de mim voando acolá. Respirei me vendo ali.
     Tornei vista pro lugar dele perguntando não estava. Pensei devo ter refletido muito no de que jeito como é que ele assuntou a miúdo coisa de morte mas a danada tem tanto significado e parceiros a lhe adiantarem o serviço que da boquinha dele palavreado de quatro aninhos de qual forma ela saltava concluía eu ser a mais de todas inofensiva sem comparsas sinistros estes ensombreados matutavam coisa maior e sosseguei de pronto mas ele deve ter cansado foi saiu.
     Ajeitei óculos levantei de cuidadoso pra num cair preguiça no chão e mulher ralhar chamei ele vem cá.
    Apareceu boca de doce escorrendo olhar sem cor assentada de vez pé e mão chateados pela quebra da brincadeira que estava envolvido disse quê? Falei ele lembrava repetiu:
     - Sabia que você não vai morrer nunca?
     Refizera atinado o safadinho a indagação forçando o verbo "morrer" na sua
    plenitude certo estava de ter sido este o erro da primeira abordagem que não
    tivera resposta. Efeito mesmo que mentirinha. Ciente acudi. Encabrestada a pergunta valoroso de conduzir as rédeas treinadas no conluio mental do interpelado pr'elas não darem noutras bandas de interpretação só
de rápido devolvi um por que?
     - Sabe - achou-se - quando vier o ladrão eu empurro você ele erra o tiro eu pego o revólver de raio laser e mato ele ziiiiiiiiiiiimmmmmmmmmm!!!
     - Se outro mequetrefe voltar? - voltei célere espiando uma possível invulnerabilidade.
     - Ué! Faço a mesma coisa!
     Bom. Palpei lógica e êxito.
     Tem muito vivente no pensamento divagando com medo da cara da dita cuja desconjura até acha perda de tempo com baboseira de num se pensar. Morte! pra que pensar? outros tenho notícia não apoquentam chamam ela minha amante esperando pra deitar. Muitos tantos cada um lida de chofre como quiser. Eu pélo. Morrer com o bucho tostado pelo raio de futurística arma talvez
impossível talvez vingue num deve ser bom não.
     Olhei pr'ele olhos dele riam respaldavam estratégia certeira infalível de cartoon norte-americano.
     Que remédio? primeira estória da minha boca saci caipora mula-sem-cabeça ele caçoou tá cum nada! nada adiantou guardar atencioso noites de causos nos pés das fogueiras e nem quando incrementei modernista uma Ferrari pro lobo-mau ele brilhou pupila. Desferiu inocente admoestando enterrando de vez personagens do meu tempinho tá cum nada!
     Esperavam feições dele concordância com estupenda ação em defesa do meu poderio ultrapassado.
     Sorri sorriso de pai agradecido.
     Aprovado o herói trepou mesa acima melecou minha bochecha de beijo e foi montar cuidar da propriedade estação espacial.
     A quentura da boca dele desceu encheu meu peito aparei lágrima indescritível num lenço.
     Um dia alguém vai ver a nódoa cristalina da minha alegria de ter vivido e não chorar nesse mesmo lenço o choro dispensável por eu ter  - agora no sentido definitivo - morrido.
     Sua benção meu filho Rodrigo.

Carlos Edu


 

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