DESPEDIDA

   Vejo o quarto vazio, as paredes despidas de teus quadros e fotos, as garrafas de água todas na geladeira, o banheiro livre de sapatos, tão poucos frascos e toalhas... Ouço o silêncio da porta sem chave na fechadura, o chuveiro mudo, o som calado. De repente esta casa me parece enorme, maior que todas as estantes e todos os livros salvos de tantas intempéries.
   Mudaste, querida. Para uma nova etapa, um momento novo, que o rio da vida flui e é preciso estar-se atento e aberto a cada oportunidade, cada nova passagem e paisagem. Enfrentar (sempre) e receber o novo que nos renova. Ah, os astros assinalam tantas mudanças para este 2001!
   Quantos discos e livros teus deixaste comigo? Por enquanto seguro aqui a Elisa Lucinda que eu mesma te dei e o Toda a Poesia da Gilka Machado... E aquelas antologias onde estão poemas teus. Estou bem acompanhada, falta-me apenas uma foto tua 18 x 24 (mas aceito uma 12 x 18...). Para ficar junto a de teus irmãos, também tua doçura ao alcance do meu olhar. Que a gente pela vida vai guardando fotos desde sempre impressas no coração e até no ventre.
   Não estou só. Sou uma mulher privilegiada. Decididamente deixei de ser a mãe-de-família para ser apenas a feliz mãe-de-amigos. Mãe e filhos cúmplices na liberdade, nos sonhos, no amor.
   Sê feliz, minha filha, sempre com a luz do universo no teu sensível coração!

Maju Costa


 

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