Um Papel-Carinho

Distraída nos meus passos, passei pela sombra. Dia semi-mudo, ouvi  lágrimas... pasmei! Parei um instante, pude-te perceber, amigo, aflito! Não  necessariamente te percebi, vi apenas a tua turva sombra. Vi numa jovem vida  o amargo soar das trombetas dos teus sonhos. Enterneci-me. Saí tropeçando na  minha distração: apaguei as lágrimas apagadas. Ofereci meu carinho para  aliviar teus espinhos. Ofereci minha mão para te ajudar a novamente  caminhar... Sem desvios! Uma ajuda apenas. Dó de quem sofre o mesmo dos meus  passados alados. Através da dor que sentias, pude me rever... era assim como
eu! Compaixão nascida simples, de fato te vislumbro serenamente meu amigo. E  com carinho repito: amigo! Eu queria estar, sempre em silêncio, vendo-te. Só escutarias a minha voz quando nem a tua própria ouvisses. Certa de tentar  decifrar tuas ruínas, ajudar-te-ia até que fosses capaz de te reconstruir  sozinho. Contudo, idealizas um sonho o qual não é teu - desilusão seria  outra vez a sua guia. Não te ignoro, jamais. Aproximo de ti para que  percebas o meu brilho distante. Sou tua amiga e amiga. Se sonhas numa  melodia mais intensa, desculpa por eu não ser inconstante... meu coração já  foi levado há muito tempo para o mesmo cais. Busco o mesmo sentimento há  anos. Não derrames esperança de correspondência sobre mim, pois ouvirás o  mesmo afeto fraternal, quase pueril, de quem deseja o fim do teu penar.

Karen Mirela


 

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