AGONIA

        Estou completamente só no meio da multidão de homens que não têm olhos.  Estou parado enquanto tudo se move, e mesmo parado movo-me mais do que tudo.  E tudo parece tão quieto...
        Embora os homens sem olhos ainda tenham as bocas, que tanto falam, que tanto falam... Por que as bocas foram tiradas apenas daqueles que ainda têm olhos.
        Quanto a mim, não tenho olhos, não tenho boca, não tenho ouvidos. Meus pés foram amputados, minhas mãos foram atadas... Tudo parece tão quieto, tudo parece tão lento...
        Minhas idéias, trago sobre o pescoço, no lugar onde antes havia minha cabeça, dentro de um pote de barro.
        E a todo momento os homens que não têm olhos esbarram em mim. E tenho que cuidar para que o vaso não caia e as idéias se espatifem em mil pedaços pelo chão sob os pés apressados, confusos, cambaleantes desses cegos sem passado,
sem destino...
        — Não! Não derrubem meu vaso!

    Angelo Papa Neto


 

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