Ah,
meu amor, os zembras!
Recordo que lutam sem trégua contra o mal, como se fosse possível
vencê-lo, a ele, o mal que se engasta na pedra igual que irremovível
e deletério limo. Meu amor, os zembras!
Quase disformes, à primeira vista não possuem sistema defensivo
a exemplo de garras, chifres, peçonha ou dentes. Os zembras contam
exclusivamente com a forção de persuasão, não
pequena, com que a Natureza os dotou a fim de que não pereçam
cá neste vale de lágrimas.
São porém frágeis ao extremo e dificilmente alcançam
vencer quem os intente destruir.
Estes farrapos tocados pelo vento, vês?, são carcaças
de zembras voando à solidão dos asfaltos desesperados, lembranças,
espectros, meros papéis.
Wilson Bueno
Do livro: "Jardim Zoológico", Iluminuras, 1999, SP, enviado pelo autor.