Estou aqui e estou feliz por estar vivo.
Feliz por estar em constante mudança, em eterno aprendizado - na glória desta eternidade - improvável - mas o quão impossível nunca saberemos.
Espanto de ver toda a gente e espanto de ver quão dissociadas estão.
Em uma única coisa estão associadas: na anestesia da própria existência; da fome desta existência; do sentido; do rumo; do fim.
Estou aqui e estou feliz por ter meu próprio caminho; que não é compartilhado por nenhum dos que vejo e dos que me falam, pois estes últimos são, com efeito, cada vez menos, e menor é a importância e o peso de suas palavras.
A “solidão” é benção que se recebe de dentro para fora e não maldição mundana que sobre o eu se abate.
Capto o que me presta; vivo o que me serve viver. Nem mais nem menos.
Ah, louco mundo de atrapalhações e ansiedades... se soubessem como é doce a emoção de viver em si e de não precisar, com a precisão que sufoca, da anestesia da comunicação que nada comunica, da reflexão que nada infere, da marcha que a nada torna...
Que doce seria o mundo se pudessem os que vejo e ouço, serem; e não, estarem.
Que gosto me daria o poder do silêncio de suas vozes não ouvidas, de suas palavras não ditas, de suas certezas etéreas, de sua constante e visceral busca do ser; sempre inconclusiva, sempre misteriosa, sempre nova; por isso, e com esta consciência de continuidade, sempre suave, despretensiosa, pacífica.
Oxalá a busca deste sentido não se encarasse na figura de guerra, que é a que me salta aos olhos.
Os que vejo são o que meus olhos vêem, os que ouço são o que ouvem meus ouvidos: em guerra, entre eles e entre todos; em busca de uma verdade que já está dentro e não fora – e que é a mesma.
Que pretendem com tanto ruído?
Afugentar a si mesmos?
Que pretendem encontrar, nesta busca em via inversa?
Estou aqui e estou feliz por estar aonde estou; mesmo que não tenha certeza de tanto.
Mesmo que não tenha certeza de nada.
Pelo simples fato de não desejar tê-la; de prescindir dela; de deixá-la aos que a buscam.
Eu já a tenho em mim: ela não me encontrou, eu não encontrei a ela.
Comigo ela nasceu, comigo ela está.
Ela é a vida.
Que basta mais a alguém para se encontrar?
Alejandro da Costa Carriles