Tenhamos como base o texto de Sartre intitulado "A imaginação".
Tenhamos a ilimitada folha de papel em branco à nossa frente, real
ou virtual. Tomemos a letra de "Eu te devoro", de Djavan, onde se ouve
"...eu quero mesmo é viver pra esperar, esperar você....".
Tomemos cinco copos de batida de coco acompanhados apenas, e irremediavelmente,
da cadeira vazia à nossa frente ( omitindo apenas a presença
de pastéis de forno). Conclui-se: vivemos para esperar, e nada mais.
Dulcíssima espera. Esperamos que a folha em branco seja preenchida
com palavras de alento, de esperança (espera esperançosa).
Esperamos que possamos amar mais e esperar mais. Chegada (sonhada) e presença
não inutilizam a espera. O corpo, o sexo e o gozo repletam e prenunciam
mais expectativa. Esperar, sonhar e imaginar são a essência
da vida. Respectivas antíteses são a inescrutável
morte. Te espero (amanhã é um prazo razoável) e "....
te devoraria a qualquer preço, porque te ignoro ou te conheço,
quando chove ou quando faz frio....". Amanhã vai fazer (nosso) calor.
Amanhã vai dar fome.
Amo qual espero.
Virás.
Ricardo Hugo Oliveira