Prisma
Rajadas de luz o despertam. Vislumbra
por segundos a saída de emergência. Mas o som do martelo anuncia
a sentença.
Começa a mais importante
batalha de sua existência. O corpo maltrapilho arrasta-se nas fagulhas
de esperança, não quer o beijo doce da derrota. Reúne
o que sobrou de dignidade, e, num esforço único, mesclado
com desespero; levanta-se. Olha ao redor. Sente o calor corrompê-lo.
Pétalas de cansaço o envolvem. Num momento utópico,
sorri da situação em que se encontra. Ganha energia. Sabe
que para alcançar o porto seguro, depende só de si. Luta...
Luta...
Seu algoz se surpreende com a
demonstração de persistência. Planeja o derradeiro
golpe, talvez de misericórdia. Desfere...
O ser cai... Escuta-se um grito
de vitória... Um oponente de grande valor, se foi...
O tempo se paralisa. Abra-se o
grande véu, dando lugar para uma chuva repentina. Braços
maternais o amparam. Divide seu calor... Beija-o na fronte. Devolve-lhe
o sopro da vida. Surgem labaredas. Seu corpo emana maravilhoso brilho...
O tapete de espinhos será
trilhado com olhos de rosas brancas...
J. Geraldo Neres
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