ALMA DE POETA
(dedicado à Eliana Mora pela beleza da sua alma de poeta)
Ser poeta é muito mais inspiração do que transpiração.

É ser um imã que agrupa as limalhas das letras, originando o travesso magnetismo da ambigüidade que permeia os versos.

É ser humano no pensar e divino no sentir.

É viver embriagado de sonhos e sóbrio de realidade.

É escutar e compreender a mensagem libertadora da voz do silêncio.

É ser um instrumento dócil nas mãos desse anjo eremita chamado solidão.

É renegar as brilhantes turmalinas da fama para não perder as esmeraldas da paz interior.

É ver a vida com a mesma simplicidade prazerosa de um prato de arroz  fumegante, feito na hora, acompanhado de cheiro verde e de um ovo frito com gema mole.
 
É refugiar-se do ritmo monótono das obrigações diárias, observando uma flor, e com a corda da imaginação escalar o seu caule, cheirar suas pétalas, caminhar por entre seus estames e pistilos e terminar sorvendo o seu néctar.

É dizer: “eu te amo”, sem precisar pronunciar palavras.
 
É ouvir : “eu te amo”, sem necessidade de escutar palavras.

É se indignar com a violência oferecendo a outra face.

É sentir a alegria de um pai com o nascimento de mais um poema e chorar em segredo como uma mãe, ao ver os filhos publicados e correndo o mundo.
 
É ultrapassar a linha limítrofe entre a loucura e a sanidade, e abraçando ternamente o tronco de uma árvore, se julgar o mais normal dos loucos mortais.

Ser poeta é ainda mais...

É ter a sabedoria de aprender com os filhos.

É ser capaz de compreender o cântico de renovação do alegre tamborilar da chuva nos telhados e, ao mesmo tempo, compartilhar a pungente melodia de dor que flui das lágrimas vertidas pela insensatez das guerras.

É poder, mesmo no aconchego do lar, sentir o frio de um mendigo que treme na rua em noite de inverno. Ë perder o apetite ao ver no jornal as fotos de crianças esquálidas em meio aos lixões, à cata do que comer.
 
É acreditar na existência dos anjos do céu que guardam as pessoas, mas também velar pelos pequenos anjos da terra, que vivem perdidos nas ruas do desprezo e do vício.
 
É tornar-se, por meio da contagiante energia das rimas, um arauto da Boa Nova, segundo a qual a única diferença entre o santo e o homem comum é que o santo acreditava que era capaz de ser santo.

É transformar cada frase escrita em uma estrela luminosa no céu das aflições humanas, apontando o rumo para a felicidade.
 
Ser poeta enfim ....é ter uma alma... e tendo alma ser humano ... e sendo humano apenas... SER!

Emmanuel Chácara Sales

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