Saudações aos afeitos poetas que vivem sob o afeto do belo e o auspício do verbo! Vosso também é o lúgubre anseio pela tarefa interminável que precisa ser domada. A poesia é o soberbo infinito de vossa alma, poeta, a soluçar versos de beleza por essa dor nunca vivida, embora sentida no todo de nossa existência.
Há algo de contumaz nessa nostalgia. Percebeis também? Mas agora, que finalizo a leitura, não quero dizer que vossos versos são belos, pois eles me vertem algo mais de ti mesmo, um resquício, uma passagem talvez, para o momento indefinido do imemorial.
Há algo de contumaz que reafirma-se no preciso instante do roer da angústia, presente mesmo no futuro existir deste traço. Um simples deixar-se ir, distante, flutuante, sem domínio algum sobre o advir. E basta isso para a dor revolver-se no peito, num chamado sem recusas desta paixão indômita. Prisão recôndita.
Descanse o braço. Lutar é inútil contra a luz escura que vos apaga; o mesmo lume que abrasa vosso viver. O desalento é o combustível da lâmpada com que Ela desvenda vossos caminhos. O preço é alto por vossa lida, que será lida e — quase sempre — incompreendida. Mas nada aqui é opção. És sem saber porque tens sido e quando te fores poucos terão ciência para crer no que vivestes para ser.
Pois disso apenas fostes feito, de uma solidão sem termo, filho pródigo de Eros, com olhos que enxergam miríades da beleza que a tudo toca, portador que sois da chave que escancara os portões da casa Dele, onde recitais odes à loucura das cores no entardecer.
Sabendo disso, alegra-vos poeta, pois tal angústia é o sol e o sal de vossos versos, e vossos passos descabidos têm a permissão dos reis que desposam a vida.
Alexandre Ramôa