NÃO SEI SE ESTAREI AQUI AMANHÃ

Não sei se estarei aqui amanhã.
Sinto-me invadida por um cansaço tão grande que todas as manhãs ao acordar, a primeira coisa que faço é olhar para o magnífico azul que se descortina à minha frente. Tento distinguir, por instantes, se estou diante da parede do meu quarto, assim pintado para afastar a depressão, ou se já atravessei a fronteira definitiva e encontro-me na pátria derradeira. Neste caso, espero, ao menos, ser gratificada com a visão do firmamento, continuamente presente a delinear novos caminhos para essa alma confusa e indecisa que ocupa o meu corpo.

Não sei se acordarei amanhã.
Tenho, cada vez mais nítida, a sensação de que esgotei a cota de benevolência a que todos temos direito desde o nascer. Lamentável. O pior é esta impressão que carrego, de ter sido escolhida para usufruir um destino privilegiado. Uma pessoa premiada, com uma bela trajetória de vida e que, como Midas ao contrário, só fez merda. Não me indaguem o porquê, não saberia explicá-lo. Apenas reconheço que tive tudo para ser feliz e boicotei-me ao máximo. Por vezes penso, que por alguma sacanagem secreta, que Deus perdoe-me a blasfêmia, ao ser defrontada com o chamado LIVRE ARBÍTRIO sempre fiz péssimas escolhas. Azar o meu!

Não sei se viverei amanhã.
Parece-me ter descido a ladeira e chegado ao final da trilha. Opto por sentar-me e esperar calmamente o fecho dos acontecimentos. Não há motivos para reclamar. Embora não prime pela paciência, nesse estágio que alcancei o melhor é manter-me tranqüila a refletir. Serve, no mínimo, como auto-ajuda, o que prova que não estou tão para baixo assim... Àqueles que me taxarem de masoquista (é tão fácil rotular) respondo que peco pelo excesso de sensibilidade e, também, pelo defeito de assumir culpas (nem todas minhas).
O fato e o que interessa é que não me importo nem me abalo, em absoluto, com as definições a meu respeito. Até porquê já as conheço todas.

Danna D.


 

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