A chuva chegou de repente, no meio da noite. Gotas grossas misturadas ao
vento. Galinhas sonolentas se agarram aos galhos da valha amoreira, suportando
seus destinos.
A mãe apareceu no quarto dos filhos, trazia uma lamparina nas mãos,
nos ombros, um retalho de flanela. Verificava as possíveis goteiras
nas camas dos filhos.
Anne olhou aquela mãe vestida com trapos, sem dentes, sonada,
como fantasma noturno rondando a casa. Ficou muito triste pela mãe
noturna, que não era a mesma do dia, arrumada, alegre, cantante:
"À uma hora nasci / às duas me batizei / às
três...", a mãe cantava nos afazeres domésticos.
Anne demorou para dormir, ficou ouvindo a fúria da natureza, assustada
com essa mãe decaída. Teve pena dela como se fosse a mãe;
e a mãe, uma criança mal tratada.
Djanira Pio