Chapéu da chuva

Quando chove, há sol dentro do livro. A tempestade envelhecia o dia. Minha personalidade estava indecisa entre o cavanhaque e a barba. Eu me roubei a eternidade. Não preciso de uma pátria, só daquilo que conheço. Nossa casa era manca na colina. Todos percebiam sua descida parada. Uma alvorada que andava. Existia grande número de afogamentos na cerração. A neblina não aceitava ser dominada, mas conduzida. Tem o mesmo fermento do fogo. Ao atingir grau avançado de espessura, as pessoas caminhavam anônimas lado a lado. O vidro assumia o cansaço dos vitrais, causando embaraço ao observador discernir o dentro do fora. Tomada de baixa visibilidade, a cidade retornava a um tempo em que não era cidade. Fui deixando o povoado, minha mulher, meus filhos, enviuvando a terra. Atravessei as paredes da fruta, o longo caule da varanda. O cordame do poço rolou sozinho.  que vai escrito no corpo, a amante não corrige. Cruzei a linha da fronteira de balsa, silencioso, levando um parente enterrado na mala, o violino embalsamado.

Fabrício Carpinejar

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