O SONHO

Voava, e tinha um sorriso mesclado de felicidade e ingenuidade infantil em seus trinta e poucos anos.

Os campos cobertos de flores, o ar leve e fragrâncias sutis impregnavam a atmosfera...

Subitamente me vi com idêntico par de asas e voei ao encontro dela. A princípio apenas um sorriso e um mudo convite para continuarmos o vôo juntas. Aquiesci.

Sobrevoamos espaços que nunca julgara existir, tamanha a paz que irradiavam. Seriam céus? Nada perguntei, deixando-a à vontade.

Estava lindamente vestida, com uma túnica verde-água e múltiplas violetas emoldurando seus cachos castanho-dourados. Ainda trazia flores de variados matizes em suas mãos.

Custou um pouco a me dirigir palavra. Pacientemente esperei pela oportunidade, certa de que viria. Enfim ouvi sua voz. Era melodiosa.

Disse que não era prisioneira daquele corpo enfermo. Podia alçar vôos, embora não entendessem e pensassem nela apenas visualizando sofrimento. Ela tinha liberdade, que seu espírito permitia, e era feliz por isso.

Ultimamente não estava captando as vibrações de dor que costumava absorver ao seu redor, pois voava, sempre, e nas regiões que percorria o bálsamo necessário era administrado de forma que continuasse com o vigor que lhe propiciava essa nova diretriz luminosa.

Não tivemos mais tempo. Minhas asas foram perdendo as forças e subitamente senti um solavanco como se estivesse entrando em meu corpo. Ainda ouvi ao longe:

— Diga a todos que me sinto livre!

Acordei com uma sensação diferente, mais leve. Não sei se impressão, mas trazia a mesma fragrância que senti quando voávamos sobre as planícies em flores.

Belvedere

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