O CATA-VENTO

        Eu me escondia atrás das persianas. E o dia fechava os olhos como as jovens suicidas em seus leitos de mormaço. Nos meus sonhos de pedras imperturbáveis feriam os dedos de quem tentasse tocá-las. E eu circulava entre as duans e o mar, no espaço não atingindo pelo bolor da vida.

        Menino, eu caminhava ao lado de minha eternidade e de minha ferida gotejava a morte. Na minha cidade natal, entre homens vestidos de branco e cães cegos e lerposos que acompanhavam docemente os mendigos, o mar me interrogava. E eu soletrava o dia que rangia como um cata-vento.

Lêdo Ivo

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