CANÇÃO

                  Minha prima Isabela... Não conheci minha prima Isabela. Atravessei, anos depois, o pátio ajardinado em que, me dizem, nos vimos e nos amamos na infância. É um lugar de sombra: como nos cemitérios há nele árvores inverniças e endurecidas. Um musgo amarelo rodeia as cinturas de umas grandes malgas de greda cinzenta no pátio destas lembranças... Foi, pois, ali onde vi minha prima Isabela.

                 Devo ter-lhe posto esses olhos dos meninos que esperam algo que vai suceder, está sucedendo, sucedeu...

                 Prima Isabela, noiva destinada, corre um caudal contínuo, eterno entre nossas soledades. Eu deste lado deito a correr na direção dos vales que não diviso, meus gritos, minhas ações, que regressao ao meu lado em ecos inúteis e perdidos. Tu do outro lado...

                   Muitas vezes, porém, rocei por ti, Isabela. Porque tu serás — quem sabe onde! — essa recolhida mulher que, quando caminho no crepúsculo, conta da janela, como eu, as primeiras estrelas.

                 Prima Isabela, as primeiras estrelas.

Pablo Neruda

Do livro: Para nascer nasci, trad. de Rolando Roque da Silva, 3ª ed., Difel, 1980, SP

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