A MANHÃ NA PRAÇA QUINZE
Os gritos dos corretores na Bolsa de Valores aborrecem os mendigos acocorados sob o viaduto e as gaivotas que, numa estridente antecipação de viagem, sobrevoam os navios ancorados.
Dentro dos grigoríficos do entreposto de peixe, as moscas prometidas a uma morte polar insistem em zumbir.
O mugido de um rebocador dilacera a manhã milionária.
E o céu não consegue sustentar as nuvens, que começam a cair na praça como grandes balões brancos.
Lêdo Ivo
Do livro: Poesia Completa - 1940 - 2004, Ed. Topbooks, 2004, RJ