JURO
Juro dessa vez eu não volto nem que se faça mandinga os anjos reclamem o mundo se acabe você vire pedra te juro não volto fique com o desamor começado no inverno o gato as chaves do inferno os vinis importados os quadros as tralhas as mesmas toadas de natais e de férias as contas-poupança o arremedo de sexo a última piada a sem vergonhice do nada juro não volto eu vou é me desvestir desse ranço e sair por aí procurando uma moça que só se sentia feliz fazendo amor no banco traseiro de um carro que gostava da boca que lhe mordia a nuca enquanto brincava de conversar com os olhos e é por isso que vou e ainda carrego comigo a lembrança de um punhado de ausência já que nem retrato eu quero e é só isso que levo nada mais me arrepia nem aquele contrato que um dia assinamos entre promessas felizes de que o amor que era tanto se um dia acabasse não fosse feito vidro que deixasse ao menos a dor tinta de negra saudade...
Mariza Lourenço