VENTOS DA NOITE
Como uma bambolina a Lua na altura deve arquear-se... Ventos da noite, tenebrosos ventos! Que rugem e fendem as ondas do céu, que pisam os tetos com pés de rocio. Estiado, dormindo, enquanto as ébrias ressacas do céu desmoronam bramindo sobre o pavimento. Estirado, dormindo, quando as distâncias terminam e voam trazendo a meus olhos o que estava distante. Ventos da noite, tenebrosos ventos! Quão pequenas as minhas asas neste golpe tremendo! Que grande é o mundo diante de minha garganta abatida! Entretanto, se eu quiser, posso morrer, estirar-me na noite para que a ira do vento me arraste. Morrer, estirar-me adormecido, voar na violenta maré, cantando, estirado, adormecido! Sobre os telhados galopam os cascos do céu. Uma chaminé soluça... Ventos da noite, tenebrosos ventos!
Pablo Neruda
Do livro: "Para nascer nasci", Trad. Rolando Roque da Silva, Difel, 3ª ed. 1980, RJ