CHUVA E SOL: CASAMENTO DA RAPOSA
(aos 20 anos de Inácio Luz, aquele que somente vê o novo)

Rememorei os bigodes de meu pai e o seu olhar maroto poetizando sol e chuva, nos folclores da infância.

O sol despeja sobre nossas cabeças o hálito travesso do verão: cavalga nuvens azuis sobre flocos de algodão. Pousado na estrada com sua coroa de espinhos dourados, alumbra-me os olhos, e a visão é magnífica.

É o mago do dia em sua realeza.

Por certo deve ter tomado banho e sacode a cabeça molhada, espargindo chuva fininha sobre campos pontilhados de gado e flores .

Entre um chumaço de capão-de-mato e a lavoura de soja, tudo muito verde, pastoso de vida, a raposa bebe no pote de ouro ao pé do arco-íris. Prepara o dote nupcial.

No alto duma coxilha, num cemitério todinho branco, uma cruz se dobra pra ver a cena. Tem uma inscrição no seu pescoço que só o olho da saudade sabe o que diz.

A pandorga mágica está com o rosto molhado pela mesma chuvinha fina.

O menino corre ladeira abaixo buscando vento pra levantar a pipa molhada. Sua longa cauda enrosca-se nas guanxumas e nos carrapichos.

Só o mundo sabe dos amores. Necessário dar-se a eles no decurso do tempo.

Viver é uma pipa ao vento.

Joaquim Moncks

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