UMA OU DUAS CASINHAS À BEIRA-MAR
In memoriam de Tony Cunha, que leu este poema em voz alta
Ao amigo damos solares jasmins, poço com águas clarividentes, ao amigo damos haste de verão, mãos como novelos, damos templo onde o silêncio é branco, ao amigo damos avenca e redenção, aroma de pequis, uma ou duas casinhas à beira-mar, ao amigo um navio arado pela chuva, um pavio que vai dar na eternidade.
Ao inimigo damos grãos de chuva, gravura com filigranas de peixes, ao inimigo ouvimos durante horas, ao inimigo damos o barco e as sombras do barco, damos muro com cerejeiras atrás, ao inimigo damos mais atenção que ao amigo, ao inimigo o silêncio da noite, a luz de Brancusi, copo de água, raio tranqüilo, ao inimigo o cavalo visto por uma criança e a cama com lençol de linho.
Fernando José Karl