A MENINA E A LUZ

A menina passava sempre por ali – naquelas horas.
Já noite, escuro!
Numa noite dessas quaisquer o caminho se modificou, uma luz se acendeu no beiral do casarão abandonado e ela sorriu.
No dia seguinte, já esquecida do episódio, ela por ali passou e novamente a luz se acendeu. Parou, admirou, e sorriu. A luz piscou, estranha e curiosamente.
Continuou seu caminho feliz, pensando naquele encantamento de luz.
Durante vários dias ela brincou com a luz que, se acendia automaticamente naquela antes velha, triste e abandonada casa.
Quando avistava a casa do fim da rua um sorriso se abria, andava apressada e saltitante até aquela novidade-presente presente.
Tinha dias que a luz parecia cantar com ela, piscava, parava, se apagava e quando a menina já se ia, ela novamente se acendia.
Seu caminho nunca mais foi o mesmo.
Jamais a menina se perguntou o que havia acontecido e porque ganhara essa alegria em seu caminho.
A menina apenas sorria.
Num dia como outro, quando a menina chegava contente defronte a casa abandonada, a luz não se acendeu.
Ela se foi triste e esperou ansiosa pelo dia seguinte.
No outro dia a luz também não se acendeu e no outro também.
Após uma semana de tristeza, saudade e espera, eis que novamente a luz se acendeu.
E os olhos da menina brilharam, ela sorriu, pulou e resolveu cantar uma linda canção para que a luz nunca mais se apagasse. Mas ela se apagou. Por vários dias, por quase um mês.
A menina sofria, já não mais sorria, chorava todos os dias ao passar pela casa e não encontrar mais sua amiga luz.
Até que finalmente, mais uma vez ela se acendeu. Mais fraquinha, seu brilho já não encantava tanto. A menina, ressentida pela falta, já não mais cantou, apenas olhou, sorriu e deixou que seu coração se alegrasse em silêncio.
Passaram-se alguns meses desses encontros entre a luz e a menina, a luz demorava cada vez mais para se acender.
A menina, com o coração magoado e, sem entender o porquê, às vezes tinha raiva da luz, por diversas vezes mudou seu caminho para não lembrar daqueles dias felizes.
Parecia que a luz sabia desses sentimentos da menina pois, quando finalmente a menina já não olhava para o beiral, a luz se acendia forte e assim permanecia até que ela sumisse no final da rua.
Um dia a menina resolveu não mais esperar e mudou seu caminho para sempre. A luz nunca mais se acendeu e a menina nunca mais sorriu.

Vera Vilela

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