A CASA QUE HABITA EM MIM

Projetar a vida pra frente remando contra as lembranças, não querendo trazê-las comigo como um rebocador, guardando-as dentro de mim como um tesouro, tentando desvencilhar-me, cultivando-as, aparando-lhes as arestas, editando nossa história, mergulhando de cabeça no passado, arriscando-me a bater com a cabeça no fundo porque o passado era raso, olhando pra frente como se olha pela janela da casa da alma e vê vida chamando, caminhos, hasteando esperanças enquanto dói a dor de perder Madinha, enquanto procuro casa nova sem vontade de ir embora desse<b> ninho verde que habito. O amanhã me convida, me espera, enquanto meus pais dançam eternamente na sala da casa grande da infância onde não voltarei jamais, à casa que habita em mim como um órgão vital.

Glória Horta

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