(...) Tenho bastante companhia em minha casa, especialmente na parte da manhã, quando ninguém me procura. Deixai-me sugerir algumas comparações a fim de que se possa ter idéia de minha situação. Não sou mais solitário que o mergulhão a rir tão alto no lago, nem que o próprio Walden. Que companhia, pergunto eu, tem esse solitário lago? E todavia tem em si não demônios, porém anjos no tom azul de suas águas. O sol é só, salvo em tempo cerrado quando às vezes parece ser dois, mas um deles é falso. Deus é só — porém o demônio está longe de ser só: ele é legião. Não sou mais solitário que um verbasco ou um dente-de-leão isolado no pasto, nem que uma folha de vagem, uma azeda, um moscrado ou uma vespa-de-rodeio. Não sou mais solitário que o Mill Brook (Arroio do Motinho), que o catavento, que a estrela do norte ou o vento do sul, que uma pancada d'água em abril ou um degelo em janeiro, ou que a primeira aranha numa casa nova.
Thoreau
Do livro: Walden ou A vida nos bosques, Henry D. Thoreau (Coleção Armazem do Tempo), trad. Astrid Cabral, Global Editora, 2ª ed., 1984, RJ
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