A CANÇÃO DA EMBRIAGUEZ
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Sinto-me arrebatado, a minha alma dança. Tarefa! Tarefa! Quem será senhor da terra?
A lua é fresca, calou-se o vento. Ai! Ai! Voastes já alto bastante? Vós dançastes: mas uma perna inda não é uma asa.
Ó bons bailadores, lá se foi toda a alegria: o vinho fez-se borra, os copos quebradiços, gaguejam as sepulturas.
Não voastes alto bastante: agora as sepulturas gaguejam: "Libertai os mortos! Porque é que a noite é tão longa? Não nos embriaga o luar?"
Ó Homens Superiores, libertai pois as sepulturas, acordai os cadáveres! Ai! porque é que o verme rói ainda? A hora aproxima-se, aproxima-se —
— ruge o sino, range ainda o coração, rói ainda o bicho da madeira, o bicho do coração. Ai! Ai! O mundo é fundo!
Nietzsche
Do livro: "Poemas", in "Cinco canções de Zaratustra - poemas em prosa" , trad., apres. e notas Paulo Quintela, Centelha, 3ª ed. revista, 1986, Coimbra.