Textura
Sou esta nuance que nada deseja além de seguir ao longo do sulco da tua face e, talvez, esperar com alegria, ter esperança, ouvir uma canção – que resista a toda a espécie de balbúrdia e ao silêncio que a sucede ou caminha ao seu lado – como só um outro que me escuta , um poço de olhos fundos e insaciáveis, o alívio de todo peso de um nome. Nunca sou só o que sou.
O que dizer de quem se diz? Até onde contar o que nos conta?
Quando anoitecer, que eu possa ser um pouco da noite, tecer a noite com a paciência do pescador.
E ao amanhecer, que eu me perceba ao menos o mínimo da manhã a desfiar a luz do dia a fragrância dos matizes inolvidáveis do entardecer, como quem se entretém numa homenagem à Penélope e ao amor, como os ocasos em que sempre desce o indefinível e prodigioso ouro da claridade.
Tere Tavares