Desconexo
Venha de onde vier, que venha um amor urgente. Me estraçalho nas vidraças de um último andar tão perto do chão. Todo dia assim. Cansei de jogar xadrez comigo, sei cada passo e blefo. Estranho a paisagem vista de uma janela fechada. Nem mais temo desconectar de vez. Perdi senso e medida e invejo quem gosta de pão com manteiga. Gostar também é ter de escolher e não sei distinguir o perímetro do meu desejo que se mesclou com tantos e de tantos. Sobrevivo aflito que os inúmeros habitantes desta carcaça de alma definam um rumo ou naufraguem de vez. A custo, adio romper o fio último que me ancora.
Na tênue morada de um coração aramado, não se esconde o menor segredo. Explicito olhares despudorados e as dores da recusa. Não mascaro a evidente atração nem contenho o lacrimoso desterro do rejeitado. Senhor dos meus apelos tende piedade de todos estes nós que trago na garganta. Um mero afago, não mais que isso, sincera carícia de um olhar.
Gilberto Gouma