Pinturas

O lugar uma pequena praia, a hora o final da tarde, o personagem o mesmo – muitos e ninguém, todos e nenhum – imaginários de um mundo, de presenças ausentes.

E um veneno me cobre o corpo. Outra vez a dor dá a certeza de que isso não mata.

Então eu vivo pelo que precisa de mim, porque adivinho o que se passa na minha cabeça.

Eu prometo não prometer nada senão cumprir a promessa de não prometer.

Juro, a minha jura é verdadeira. Juro a verdade pela sua raridade.Choro pela florescência que aflora perto de mim, e pelos gestos que se perdem no mundo e não brilham sobre as pessoas e sobre o mundo. Eu choro pela galáxia suspensa na axila de uma política ruim de um político mau que nem se importa se vou estar aqui amanhã ou se a desconhecida não sabe que a conheço e falo com ela. Eu falo de coisas grandes de pessoas pequeninas que jamais perdem a graça; os prismas de uma grandeza de um pequeno hoje, que pode ou não se repetir.

E por isso atendi os pincéis naquele plano.Então pintei a esperança no sorriso daquela mulher de vestido branco. E suas mãos finas escondi sob a cabeleira que se derramava sobre os ombros corajosos. Eu lhe dei um tom mais branco no rosto e proclamei a transparência da sua felicidade. Eu lhe dei uma casa com telhas novas e vasos de cerâmica no jardim. Eu lhe dei um par de olhos e uma boca de meio-sorriso imitando a Mona Lisa.

E suas belas formas estão refletidas em tudo o que é da sua natureza. Apesar do meio-sorriso, ninguém imagina uma inteligência fora do comum por trás do carmim daqueles lábios e o fulgor daquele olhar. Nem triunfos, nem menos valia. Eu a pintei apesar de tudo.Eu lhe dei as nuvens claras e o sol iluminado.Eu lhe dei o céu mais bonito que pude ver.

Outro dia, quando for novamente amanhã, lembrará de ontem e de hoje de uma forma tão particular que nada se parecerá com algo que tenha sido somente um tempo ido.

Tere Tavares

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