Arrebentamos mares de estrelas no casco. Cravaram-se ostras prateadas em seus cabelos. Dali de sua imensa inércia, uma lua agreste nos fita invejosa. Sereias despejam notas semicirculares como ventos em alto-mar, tempestades, bafejos na calada da noite. Nem mesmo todos os radars, os skylabs, os satélites em órbitas, poderiam interceptar. O reflexo das estrelas em teus olhos. O barulho silencioso da lua em tua pupila, ardente. Como direis, ora direis, ouvir lumes e luzes de estrelas. Rodopiantes em carrocéis intergaláticos, o veento amainando beijos, desordenando braços pernas troncos seios nádegas, costas imensas em pleno espaço siderado. Não sei bem mais ao certo com clareza se ainda é alma o que tenho pregado junto à carne. O vento leva e traz um tênue fio que nos une. O vento dói. O universo perde a órbita, descarrilha dos trilhos do tempo para onde mais nenhum telescópio aponta. Os pêlos íntimos. Não mais importam. As constelações são muito além. A Lua invejosa. Não sei. Marte ou Urano. Areia. O vento é o gozo. Um minuto. Um momento. A tempestade nos banha. A eterna chuva de estrelas arenosas.
Karen Debértolis
Do livro: A estalagem das almas, Travessa dos Escritores, 2006, Curitiba/PR