Pesar

Minha Pequena,

E em mim morrerei sem teus lábios, morrerei sem os doces e ânsias dos teus lábios debutantes. Haverá silêncios que por lembranças desfilarão como numa desmaiada gandaia de quarta-feira de cinzas, haverá um dito descompassar de lágrimas para este gélido esquecimento, haverá nossos rostos, desafinados por triste remorso, com sorrisos de outros rostos, haverá um anoitecer de eus anteriores a embolorar o delicioso antes nosso, vivos agora nos naufrágios das fotografias, haverá viúvas carícias para corações e mãos estranhas, dedos tricotados em outros dedos que tu te procurarás ter com tanto conforto como se estivesse em nossos conoscos procurando. Sem dúvida haverá também do amor todo seu desamor e saudade, a saudade florindo nesta arquitetura de crisântemo e suicídio como nos contaminando com eternos paradoxos.

Eu em ti nos encontramos sob a aritmética de entretantos, infinitos, para chovermos, assim, catetos, opostos a ordem dos sujeitos, e distâncias. Entretanto, vejo agora uma finitude a chover, indeterminados...

À noite, quando de insônias meus poros o medo do amanhã porejar, tu não saberás. Não saberás que durante a noite acordei amedrontado de amanhã. Amanhecendo-me não saberás tu que este medroso palpitar é o exato sinônimo de minha enorme inexatidão ante a vida.

Tu és a única certeza que oceano na meninice das minhas angústias. Da ausência de ti sou uma garoa, uma sóbria garoa a calar, ausente de ti, em vogais e consoantes...

Diego Ramires Bittencourt

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