ILHA

Uma ilha é um incômodo. Não provoca sensações  lineares como as praias quilométricas, as baías, as enseadas, as praias/refúgios recônditos, as pequenas sangas, as praias com dunas de areias finíssimas. Ali se fala outra língua, estrangeira, esquecida, códigos indecifráveis. Uma ilha é uma exclusão óbvia. Partida do continente e de costas para o tempo cronológico dos calendários da cidade. O que rege é a lua e os humores do mar. Guarda-se uma ilha em fotografias, mas guarda-se, verdadeiramente, uma ilha na pele fixável de dentro da cabeça. Ali vão doer as emoções de uma ilha. Essas dores de depois a que chamamos de lembrança.  Uma ilha prescinde da velocidade – carros, trens, metrôs, motocicletas. Mas, não totalmente, de aviões, helicópteros, bicicletas. O tempo da caminhada, a terra, a água sob os pés que segue os sentidos do sol. Uma ilha é também diversas ilhas dentro de si mesma. Pedras, arrecifes, formações rochosas, areia, conchas se escondem ao sabor das marés. Micromundos marinhos que também sobrevivem alheios à própria ilha. Este universo é mais instigante que o de carne e osso e sangue e olhos. Os humanos, em geral, são desinteressantes. Ou parvos, ou estrangeiros, ou intolerantes, ou ensimesmados.

Karen Debértolis

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