Vim a ferros
No pampa, noite funda, fui parido. O casarão saltou da penumbra como um boi. Berrava a primeira luz. Vim a ferros. Queria continuar enrolado sob a água materna. Não fiquei. Fui empurrado fora. A porta se trancou com sua aldraba. E foi selada.
Atônitos, os meus olhos miúdos diante dos olhos embevecidos que me rodeavam. Apalermado, os fitava. Voejava com os olhos. O Tio e a Tia cerimoniosos. Ia murchando o quarto, a casa. Nascer é tão penoso e agravado! Confesso que dormi.
Carlos Nejar
Texto extraído de Blocos - jornal/revista cultural nº 32, ano 8, julho de 1999, RJ