SÃO TANTOS OS CAMINHOS

Ela tenta escriturar veredas, fala de algodoais para esquecer o traçado urbano, perversões das ruas e ônibus que seguem para o mar. Abre-se às cidadezinhas do interior, onde velhos boêmios cultuam saudade na alegria de sentirem-se vivos. Eles a chamam para danças na praça e quase a faz retomar o gosto pelas palavras, eles acreditam em sua coreografia, embalam-se na magia para não sentir o medo do ridículo. Deixam mil textos em sua memória - prontos de solidariedade e felicidade vivida. Com a literatura, ela sabe transpor ausências e acender o prazer das visitações, sabe chegar às catedrais e a nave de velas que definham brilhando. Vê-se em antigas moradas, quando o amor começava, recíproco, estremecendo vidros e cativando astros, sem repetir esperas inúteis. E acomoda-se ao canto para não espalhar aquele medo indivisível.

Vernaide Wanderley

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