I
Seu silêncio mancha meu corpo. Espelho quebrado onde cortes profundos são casulos para borboletas. Corpoadubo para seu nome escrito a faca. Perambulo pela cidade: persigo aquilo que de mim escapa. Velas, vinhos, Just like a woman repetidas vezes em meio as suas confissões, espasmos de nuvem, sumos de laranjas, seu sexo em riste e as horas suspensas. Uma paisagem indefinida e seu corpo ali, estátua de cera. Rubro. Um não-sei-quê a apertar a garganta mistura de gozo e dor. Não fosse a ociosidade da minha língua te lamberia inteiro antes que te diluas de vez em asperezas. E de novo os restos do nada e o mapa cuidadosamente marcado. Só os lírios sabem dizer de você.
II
Falta pouco para a meia noite. Em instantes o centauro baterá a porta, tanto faz.
Já não me importa quantos algarismos tenho tatuado. Ando neste mar de tédio acumulando solidões. Os dias são mornos. A cidade é estranha. Não há alegria suficiente para aplacar a falta que sinto de mim e o desejo de voltar, mas, toma-me pela mão a inércia e certa complacência, dividida entre cortar os pulsos ou fazer um inventário, corto os cabelos. Na boca o batom intacto e o ventre calmo. No peito um coração desesperado, uma saudade e o som da palavra silenciada. Sob o lençol as rosas brancas (como havia pedido) e uma ausência, hóspede antiga. Tomou um atalho e não chegou a tempo o homem negro e os lírios. Chega o centauro e me encontra só. Oblíqua.
III
Não se vá amor. Sem você o sertão não me cabe. Você é água doce. O poema suado que nasce do oco de nós dois. Um uivo. O galope perfeito. Não vá embora, eu lhe peço. Fique ao menos até amanhã ou quem sabe, até setembro, quando o flamboyant enflora e não demora, chega o fim do ano e nós... Ah, nós vamos ler aquele livro, ouvir aquela canção. Dançaremos de rosto colado I’d rather go blind. E caso não se lembre, aquele presente que me trouxe de lá, ainda está sem dedicatória. Tanta coisa ainda falta! Você não devolveu o meu Stalker. Não me comprou aquela saia de girassóis. Nem o disco de Jimmy Cliff. Fique. E sigamos o conselho de Domingos de Oliveira: vamos foder o dia inteiro!
Thaise Diaz