Reconcialização com a natureza
Todos de cabeça baixa perfilados diante do pinheiro assassinado, oram, alguns rezam, outros jogam damas, outros se perdem na trilha estendida, gravurando no chão as marcas que a vítima deixa, no começo chorava nos enterros de árvores, hoje não, contratei um especialista, e ele chora por mim, do jeito que eu gosto, com respeitoso escândalo. Ví na beira do mangue um homem com um carrinho de mão , limpando, aquela imensidão de lixo, não me contive e perguntei, – raro trabalhas pra prefeitura? – " não, tenho uma empresa que se chama consciência própria." E continuou sua obra. O senhor pensa em limpar todo esse mangue sózinho? – "Não só esse, mas todos. Essa empresa que eu trabalho, é muito grande ela esta em todo ser, e se cada um chama, sua própria consciência, vamos ter um exército notável de pequenas empresas operando, vai faltar mangue. Acredite." Já saí me imaginando de carrinho de mão e pá. Meu coração disparou que chegou a mudar de lado, a esperança tem esse dom de descortinar altares enfeitados de flores e velas e santos suspensos no etéreo, por dentro, não sei de que lado desce um bando de pássaros estranhos, e começaram a entoar um parabéns pra voce, pra mim, depois descobrimos o que aconteceu, a serenata era pra outra pessoa, eles erraram de rua. Mesmo assim, agradeço, mas não mereço. O senhor tem sorte, não dou prêmio por merecimento, quem dá presente por merecimento é a vida, dou por emoção e desço a escadinha de palavras, como quem vai à cacimba buscar àgua, devagar, pé ante pé, degrau a degrau mas com o coração na mão, ele é a vasilha.
Hélio Leites