Hesitar
Ele queria beijá-la, e ficava imaginando como seria o beijo
dela, inventando em si homens diferentes até achar um que a satisfizesse.
Queria abraçá-la, não à sombra tranqüila
do alambrado, não sob o sol teimoso que galopa, mas sob um guarda-chuva
enorme – aberto esparramando oco um eco no ruído das águas.
Ela, imóvel logo à sua frente na fila do banco, parecia flutuar.
Ele, luminoso, permanecia invisível. Dividiu-se um minuto e ele
decidiu ser um homem que se aproxima de uma mulher sem sentir medo. Aí,
o pavor discordou, sugerindo-lhe um homem, se não mais plausível,
ao menos mais real: um homem apaixonado. Mas o tempo moveu-se como o rio
que interrompe o deserto, e a desconhecida partiu durante apenas esse silêncio.
O homem mais tarde descobriria que as coisas mais belas podem ser tão
fugidias como um pôr-do-sol.
Bruno Sadosky
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