As nuvens dançam um lento balé, despreocupadas.
São espumas num mar azul virtual.
Invertebrados que se arrastam suaves.
Assumem formas ao acaso, ao caos.
Desmancham-se feito algodão doce na boca, grudentas.
São passatempos dos ventos, que com elas brincam.
Jogam de um lado para o outro, por pura diversão.
Algumas estão manchadas, escuras, carregadas de água
(ou de chá gelado?).
Encobrem, suicidas, o sol em brasa e em instantes são derretidas.
Evaporam-se. Desaparecem para sempre (para sempre?).
De onde estou, tenho uma visão privilegiada. Assisto a cada
passo, a cada movimento delas. Posso vê-las com nitidez incrível,
como se estivessem ampliadas milhares e milhares de vezes. O céu
azul-claro é apenas um cenário, um fundo para melhor destacá-las.
Quem mais estará assistindo a este espetáculo além de mim neste exato instante?
Deitado neste leito, também me sinto desmanchar aos poucos.
Em breve desaparecerei (para sempre?).
Se eu fosse uma nuvem, choveria sobre os telhados da cidade numa noite
escura.
Um adeus (para sempre?); uma forma de esquecimento, de sonhar.
As nuvens são os sonhos de alguém em sono profundo.
São um recado: sejam leves e ganhem o infinito.