Aqui estou eu envolta pela arte virtual e sua variedade opulenta e aterrorizante. Aqui, tudo o que é infinito em possibilidade fascina e espanta o espírito e nos contagia com os amortecimentos do saber. Entendemos que a vastidão condensa em si o fantástico, muitas vezes aleatório, e o inacessível. Pois tudo o que é fantástico e ilimitado é também a seu modo incansável por completo. Eu me sento circundada pelo espectro das informações sem as escutar nem as ver, mal as percebo. E, no entanto, notícias, pessoas, imagens e fatos consomem meu tempo. Quase nada eu sei, pois uma profusão me cega. Às vezes, ao contrário do provável, me desnutre até os ossos. Quando mergulho na saturação informativa da notícia, passada ou presente, perco aos poucos a capacidade sensitiva e o sabor de absorver com todo o tempo que a verdadeira compreensão solicita. Mas aqui estou eu, fascinada. De uma fascinação sôfrega, pendulante, cada vez mais contemplativa. Eu me sento diante do conhecimento da mesma maneira que descanso em frente à paisagem ou a elas, as paisagens, inúmeras, todas povoando o meu imaginário, meu arquivo lúdico de razão e lembrança. O resto é ordinário, e a reflexão me esgota. Afinal, toda paisagem é ainda mais bela em contraste com aquilo que experimentamos ao nos movermos por ela. A idéia em contraste com a ação, o abstrato frente a realidade. Só a constância do movimento é capaz de conferir esta estranha e hipnótica calma às observações feitas no distanciamento do mundo. Não é só isto. Tantas coisas me fascinam! Tantas coisas me sustentam distante, alheias ao seu cotidiano, adquirindo estes suspiros trágicos ou contornos, criando mistérios que aguçam a mente e os sentidos. Meus sentidos me fascinam, e os sentimentos que dali se formam. Um pensamento que não compreendo e uma imagem capturada de um momento qualquer aqui se reproduzem em outras mil imagens, como seqüências de uma animação. Gosto de pensar que a emoção me toma ao invés de ser fabricada pela combinação de dados de um arquivo biônico. Que a emoção me invade como um soro diluído pelas correntes sangüíneas e domina o pensamento, como dominam as demais partes do corpo outras substâncias produzidas em meu cérebro. Tenho apenas uma imagem sob os olhos, carrego esta imagem há horas sobre tudo o que eu vejo. Carrego um cheiro que se encontra no inspirar de tantos outros variados cheiros que me rodeiam. Sinto um som e sinto um toque que transpira de toda superfície que toco. E, no entanto, esta imagem é sonho puro, é qualquer magia de coisas que se pode ver, mas não se pode alcançar. Torno os olhos para o alto e percebo que falamos de estrelas o tempo todo. Estrelas entre eu e você, estrelas entre as montanhas. Fios que se entrelaçam e ocupam caminhos distintos numa sinfonia a princípio imperceptível, um sussurro  regendo a imagem da forma que não se pode intuir. A forma que se dissolve pelo afastamento, a cor que desbota. Um enigma que se exibe a nós com a mesma doçura que exibe o céu, ostentando a curvatura sedutora das abóbadas. Ali adiante, no morrer entre o caminho e o horizonte há sempre a expectativa de que algo se revele e surja. Nesta imagem onde só cabe um dia, e o outro é uma surpresa. Esta imagem que nos circunda, nos atrai, cativa e se desdobra por sobre nossas cabeças, amplifica em seu interior as vozes de uma pregação e infiltra a alma com o contraste das coisas ao mesmo tempo reais e imaginárias, com a falsa proximidade que nos contagia, com mais que o maior fascínio das distâncias, com o vazio da contemplação. 

Lu Maimone

 
 

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