(Poema em prosa dedicado a todos os meninos do Brasil)
Olhos negros contemplando a claridade do dia, menino
sentado, sorrias, sorrias. Por que sorris, menino encantando? Por quais
portas atravessa? Por quais? Portas de mundo-magia? De mundos naturais?
De bichinhos, de pardais? De estilingue, de
pedrinhas, de pedradas? De tantas janelas quebradas? Por que sorris,
ó menino, vamos, fala, conta para mim. Pensa em noites estreladas?
Nas pontinhas amareladas daquela estrela sem fim? Ou será a namorada,
a menina esperada, com cheirinho de
jasmim? Vamos, fala, menino, não fique aí me olhando
desta foto envelhecida, por mãos do tempo tingida, em preto e branco
da paz. Fala, menino, responde! Teus olhos fitam o longe? Teus olhos prescrevem
o futuro, que não seja tão escuro, quanto os olhos que o
vêem? Teus olhos sorriem, esperança? Mas tu és a criança,
que teus olhos querem ver. És a criança calada, triste, só,
abandonada, em teu mundo pueril. És o menino de rua, descalço,
pernas tão nuas, imundo, sem mãe e sem pai. És órfão
de caridade, és a própria orfandade. És menino-gaiola,
dos espigões que se afloram, nas selvas dos matagais. És
o menino-medroso, do pai ébrio e mãe gentil. És os
meninos-meninos, teus olhos vêem os destinos, dos meninos do Brasil.
És menino-esperança, que a vista sorri e alcança,
um futuro bem melhor. És pobreza, a ruína, és também
auto-estima, dos
que querem superar-se. És o medo e a coragem, é assim,
tão-somente, pequenino, um menino, simplesmente, sentado, sorrindo,
num tronco qualquer da árvore esquecida, da vida.