Relapsos Diários Para a Juventude
ou
Como Viver Na Corda Bamba Em 10 Lições

Escrever não é nada tão lindo para mim. É uma mistura de amor e horror. É me achar e me perder ao mesmo tempo. Volto pra casa, e me distancio do mundo dentro de uma boca negra e sem dentes.
Dei um nome pra isso. Sou um Maníaco-Depressivo Literário. Meu comportamento em relação ao que faço oscila entre a auto-adulação aguda e a mais profunda subestimação. As vezes tudo está perfeito, e as vezes tudo está errado. Ainda não sei se me encaixo no Top Ten ou no Under Ten. É, escrever é mais carnal do que se possa pensar. Gostaria de ter estabilidade em relação ao meu ponto de vista.

MEU EGO

é uma infinidade de pequenos Danieis
que correm e me matam.
Meu ego é uma horrível múltipla escolha.
Eu gostaria de pelo menos poder ser Byron.
agora é o momento pra um poema, não é?
Ah, vai se foder!

Único fato: Eu nunca estou a altura de mim mesmo. E por mais que tente, tudo o que consigo ser é alguma outra pessoa. BURNIN' IN HELL? WHAT CAN I TELL?

O DIA após o NATAL. O DIA DE NATAL. the night before christmas. sempre um jantar e umas risadas e umas horas a gastar e o natal não abre a boca pra porra nenhuma. é o que eu vejo pela janela. o dia de natal. e porra
nenhuma. ainda tem algumas sobras da night before christmas. um milhão de pessoas e sobras. AH! SOMOS SOBRAS DE NATAL, DE QUALQUER MANEIRA. COMO SOBRAS DE GUERRA. DESPEDAÇADAS. MISSAS DO GALO E PERUS ENFURNADOS NOS FORNOS DA FAMÍLIA OCIDENTAL. O NATAL OCIDENTAL. O HOMICÍDIO ORIENTAL.

Uma vez eu subi num PALCO. Uma noite iluminada de um festival literário, recheada por poemas divididos em ESTROFES SIMÉTRICAS e estudantes adolescentes carregando pais e avôs. Mas eu era tímido, novo e esperto
demais pra me apresentar pra uma multidão de FAMÍLIAS ÁVIDAS POR SANGUE. Um moleque qualquer leu o poema no meu lugar. Não era nada demais, uma nojeira empolada sobre Vlad Tepes, na época em que eu pensava estar polido em cima de Notredame. O garoto arruinou com a poesia. Mas FODA-SE, o poema já era ARRUINADO por si só.

Regra número 1: escreva e fale para si mesmo. mas nunca fale para outrem o que você escreve para si mesmo. fale para outrem o que você não fala para si mesmo. fale para si mesmo o que você não fala para outrem.
escreva o que não é escrito, fale o que não é falado. e deixe eles pensarem o contrário.

Sou um escritor ou um malabarista? gostaria de poder girar malabares da mesma forma que giro palavras. poderia fazer um circo e tanto.

Espero on line pelo resultado de todas as provas finais que fui obrigado a fazer na faculdade. Qual dentre tantos urubus solenes de garras manchadas por chocolate derretido e uma trilha de bombons em seu caminho irá me presentear com uma reprovação? Eu tenho uma infinidade de opções. Suas lógicas jurídicas os levam à belíssima conclusão de que eu sou um resíduo tóxico, um delinqüente pós-juvenil agonizando pelos corredores universitários e com todo o lixo cósmico do universo flutuando pelas órbitas de uma cabeça vazia, alguém a se trucidar com reprovações e repreensões. É claro que nenhum deles jamais entrou no meu site. Talvez se entrassem...sua lógica seria reforçada ainda mais. ha,ha,ha.

ha, ha, ha é o caralho.

As férias não foram feitas pra se pensar em universidades ou em universos, o que no fim das contas dá no mesmo. regra número dois: deixe que eles pensem que você está pensando. e sempre pense o que eles não estão pensando que você está pensando. se for para expelir pensamentos alheios, não pense, seja burro. essa será a atitude mais sábia a se tomar.

O dia: cinzento. molhado. escorrendo pelos cantos escuros de um céu dormindo. caindo no meu quintal como um presente aberto e sem surpresas. aviões despedaçados atrás das montanhas e televisores. O dia: hoje. sábado pela manhã. 4 de janeiro. e o tempo correndo em círculos numa grandiosa e brilhante circunferência de mortes e infâncias perdidas. perdidas ao longo do caminho metálico do progresso. hoje eu estou teclando na frente do computador e uma pessoa varre a chuva da rua e tudo está bem dentro do silêncio.

Termino o meu segundo romance e posso ver que ele irá passar das 150
páginas que eu desejava. Estou na 142 e ainda existem coisas a serem esclarecidas. Não sei se ele será tão bom para os outros como é para mim
e não sei se ele é tão bom para mim quanto será para os outros. As idéias do final se misturam com as idéias do começo. O começo do terceiro romance. Existem muitos romances por aí, e eu só faço a minha parte...

Decidi ser um desgarrado de ideologias e comportamentos.

Me decepcionei com todas as tribos. No fundo todos eles são um bando de idiotas e bundinhas perfumadas.

A galera da zueira é superficial demais. E acha qualquer tipo de sopro de vida dentro de um cerebelo uma verdadeira perda de tempo, uma grandessíssima chatice. Eles não sabem porra nenhuma, nem mesmo trocar as próprias fraldas. Vão acabar virando um amontoado de merda cor-de-rosa cheirando a chiclete mastigado. São tão imbecis a ponto de ostentar a imbecilidade.

A galera intelectual é metidinha demais. Se acham uns refinados. E se aproximam da "arte" a ARTE que eles fazem biquinho para pronunciar, não porque gostem de ler ou de escrever ou de ouvir um som ou de tirar um
som, mas usam esse tipo de coisa apenas para exibir um statusZINHO imbecil. Eternos críticos. São escritores não para escrever mas para dizer que escrevem. Admiram determinado escritor não porque sentem no
fundo de suas tripas de merda as palavras escritas que ele imortalizou, mas apenas porque é "CULT" (blearg...) e AVANT GARD. No momento em que o povo começa a escutar o que o tal intelectualzinho está dizendo e a admirar também o seu escritor preferido, ele fica fulo da vida pelo fato do seu ídolo ter caído no gosto geral. Ora, meu caro, você não gostava do sujeito? Devia estar feliz por ele estar se popularizando... Ou será que você só gostava do CULT que ele lhe proporcionava? se quer saber... VAI TOMAR NO CULT!

Me decepcionei com todos eles. Ninguém é sincero e todos se escondem atrás de pequenas auto-afirmações. Isso me faz bocejar mais do que qualquer aula de matemática que eu já tenha freqüentado.

Regra número três:
Se puder
seja um desgarrado.
As garras esmaltadas das iaras
e sereias
cibernéticas
rasgam fundo
e desfiam
almas.
por isso que eu vejo filmes de terror vagabundos e sangrentos
mesmo que os refinados digam BLEARG...
por isso que eu leio Dostoieviski
e Cortázar
mesmo que os zueiros digam BLEARG...
porque HENRY & FRANK
MILLER
falam a mesma língua.
e eu falo a minha língua.

Daniel Frazão

Publicado no site do autor: http://www.beatbblearg.hpg.com.br
Enviado por Marcia Frazão

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