Objetos

O menino pega escondido a caneta de ouro e de estimação do pai. Ele tinha ganho do avô do menino, quando se formou na faculdade: – Filho, você é dotô, tô orgulhoso.

O garoto corre para o quarto, pega uma folha e começa a desenhar. Depois, vai aos aposentos da mãe. Vê uma echarpe sobre a cama. Gostava de ir à janela para que o vento a esvoaçasse. Imaginava que voava nela, como o Aladin no tapete mágico. Esta echarpe foi um presente de um antigo namorado de sua mãe, quando estava em Paris. Ela nunca deixou de amá-lo, mas gostava do marido também. Aliás, seu coração havia lugar para os três homens de sua vida...

Ele começa a brincar com carrinho de madeira, que foi feito pelo seu avô paterno; quase não o via. Não sabia o motivo do avô não visitá-lo, só escutou um comentário da cozinheira: – O patrão tem vergonha do pai.

Larga o brinquedo, vai ao quarto fechado pela mãe. Pega a chave da porta, que a mãe esconde junto com as jóias. Quando entra no recinto, a primeira coisa que faz, é olhar a foto da irmã morta. Era um moça de dezoito anos. Morreu de uma hemorragia... ninguém falava no assunto, o garoto só escutava frases soltas. A foto da irmã foi tirada em Petrópolis, estava com um vestido azul que a avó materna lhe deu de presente. Sobre a cama, havia uma boneca loira de olhos azuis que o pai comprou nos Estados Unidos, quando viajou a negócios. O garoto imaginava que ela era sua princesa. Inventava histórias cheias de aventuras e que era um guerreiro, que a salvava das situações mais perigosas.

De repente, uma xícara se quebra. O grito da mãe o assusta e vai ver o que está acontecendo. Vê o rosto da mãe desfigurado. Ela quase bate na empregada, por quebrar a frágil relíquia. Comprou-a num antiquário em Praga. O vendedor lhe disse, que pertencera a um rei famoso de nome complicado. Mas, ainda bem que não foi o whisky de doze anos do patrão, presente do embaixador inglês. O salário da empregada seria descontado até o dia de sua aposentadoria.

O pai chegou, veio com o carro que toda vida sonhou em ter. Nunca se cansava em olhar a casa, onde vivia agora; era antiga e espaçosa. Lembrava-se que a mulher lhe dizia sempre: – Foi habitada por pessoas influentes.

A noite chega e avança, todos foram dormir. O menino dorme com um livro nos braços. Uma antiga babá o lia para ele, quando era mais novo. Quando cresceu, a mãe dispensou os seus serviços. Não queria concorrência... Ele sempre se lembrava da "bá".

ERA UMA VEZ

Olhei para o espelho. Queria que me dissesse a verdade da minha beleza e virtudes. Mas, disse-me: – Você é um nada, nunca irá existir! – joguei o espelho fora. Comprei outro. Que se dane à verdade. Fui feliz.

Eduardo Oliveira Freire

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