CAIXAS E CARINHOS, GUARDADOS...
Dia desses, resolvi fazer uma limpeza em alguns velhos guardados. Sabia que mexer naquelas caixas significava muito trabalho e já vinha adiando essa tarefa há algum tempo.
Mas estava lendo alguma coisa sobre Feng-shui que recebi por e-mail. O Feng-shui é uma antiga arte chinesa que busca a harmonia e o sucesso dentro de um determinado ambiente, alcançadas através de certo tipo de energia que é a “força universal da vida”.
Não entendi muito bem essa filosofia, até porque não procurei me aprofundar no assunto. Mas, por curiosidade, li o artigo. Era bem montado e interessante. Lá dizia que a primeira coisa que se faz quando se quer renovar energias, é desfazer-se de quinquilharias, doando, vendendo, jogando fora, enfim, livrando-se de tudo o que não tem utilidade na casa ou que não se precisa mais.
Então, mãos à obra. Vamos renovar algumas energias. Abri uma velha caixa, me sentei no chão em frente a ela.
Comecei a revirar o seu conteúdo com a intenção de jogar fora o que não precisava mais. O primeiro olhar sobre o que estava à minha frente me convenceu que esta não seria uma tarefa fácil.
Entre as cartas, cartões e antigos convites havia um verdadeiro tesouro: quase uma centena de cartõezinhos e recadinhos confeccionados por meus filhos quando ainda mal sabiam escrever o próprio nome.
Comecei a olhar, um por um...
Quantas lembranças maravilhosas havia ali! Datas carinhosamente lembradas, declarações de amor, pequenos pedidos, situações engraçadas, algumas confissões de saudades antecipadas nos cartõezinhos feitos às pressas para se transformarem em pequenas surpresas no meio da minha bagagem quando saía em viagem e outros tantos momentos de forma tão encantadora registrados.
Em cada palavrinha escrita, em cada coraçãozinho, florzinha ou animalzinho cuidadosamente desenhados, em cada versinho ou frase, revivi emocionada o momento inteiro do qual eles fizeram parte.
Lembrei dos rostinhos sorridentes com que eles vinham portando aquela pequena relíquia que me seria entregue. Ouvi as vozes, os sons, senti os cheirinhos gostosos, recebi novamente todos os abraços e beijos como se estivesse lá, de novo, na infância deles.
Fiquei horas nessa “tarefa”. Não tenho palavras para descrever a alegria que esse momento me trouxe. Fiquei imaginando como uma caixa tão pequena era capaz de conter tantas emoções e tantas histórias.
Com exceção de alguns poucos postais e convites, não consegui colocar mais nada na pilha do que seria “jogado fora”.
Aí pensei novamente na tal filosofia Feng-shui, tentando descobrir como eu poderia, já que havia me proposto a isso, renovar alguma coisa no que estava ali, à minha frente.
Levantei-me do chão e das lembranças. Fui até uma loja e comprei uma nova caixa (a mais bonita que encontrei) para preservar por mais vários anos aqueles carinhos feitos de próprio punho pelas duas pessoas que mais amo na vida.
Ajeitei tudo cuidadosamente na nova embalagem, pensando que a energia do amor que recebo deles diariamente é incrivelmente maior e que não necessitaria desse tipo de gesto para ser sentida e vivenciada, muito menos para ser lembrada.
Mas pensei também que havia uma energia indispensável e maravilhosamente concreta naquelas pequenas provas de amor ali guardadas...
Helena C. de Araujo