O pufe
Sou meio desajeitado para certas coisas. Quem me conhece sabe disso. Derrubo celular no chão, travo a porta do carro com a chave dentro, bato em postes enquanto ando pela calçada e troco os nomes dos filhos a toda hora, apenas para citar alguns exemplos.
Mas de vez em quando me supero. Outro dia, resolvi encher o pufe lá de casa. Para os que não registram o nome, vale lembrar que estou me referindo àquele móvel que é um saco enorme de couro sintético, recheado com isopor e/ou espuma. Tem uma relação conceitual com sofá cama de liquidação: é muito confortável no princípio, mas murcha com o tempo.
Pois eu tenho um pufe tamanho GG. Dizem que é para casal, mas acho que é um pouco de exagero. Até porque eu e a namorada somos, como diria, enormes. Cabemos lado a lado no estofado, salvo algumas restrições para movimentos bruscos. Pois bem, o pufe vinha sendo vítima do pula-pula das crianças (são quatro) e das espreguiçadas do casal nos finais de semana. Não haveria de ser diferente: virou um hambúrguer gigante.
Todo cheio de boas intenções, resolvi encher o danado com isopor. Em Pinda tem um fabricante de peças EPS para a construção civil. Pois eles aproveitam o refugo para produzir recheio de estofados. Fui lá e comprei um saco desse recheio de bolinhas de isopor para dar vida ao esmagado móvel de casa. Imagine um saco plástico de 150 litros. É alguma coisa como um balão de um metro de diâmetro por um metro e meio de altura com milhões de bolinhas dentro.
Pois tentei colocar o saco no porta-malas do carro. Adivinhe o que aconteceu. O jeitosinho aqui furou o saco. Voou EPS júnior para tudo quanto foi lado. Você tem idéia do que significa ficar com aquelas bolinhas espalhadas pela roupa, pelos cabelos, pelo carro e na rua? A calçada parecia vitrine de natal. E a minha cara, ora a minha cara, parecia de Papai Noel pego em flagrante saindo do motel com a rena Rudolf, aquela de nariz vermelho.
Maurício Cintrão