República dos sonhos
Ainda nos tempos de minha sucursal, tive o contato com minha primeira cor, não que eu soubesse, naquele momento que aquela era deveras uma cor, na verdade meus olhos ainda não estavam preparados para distinguir-las, esta foi a minha primeira cor significativa. Com o tempo eu fui me acostumando com elas e passei a ter algumas como prediletas, fui a os poucos percebendo que elas faziam parte daquilo que eu chamava de sonho, as cores tomavam vida e adquiriam gosto, me vinham em flashes em formas abstratas e rostos que ilustravam minha pequena república dos sonhos. A minha infância fora desde cedo salpicada de tons amarelos que disputavam com outros tantos tons vermelhos que naquela época simbolizavam outras tantas coisas para mim. O azul surgiu pra mim muitas vezes mais nada foi igual quando na vez em que a meus pés confundiram céu e mar nas ilhas belas do arquipélago de Angra dos Reis. Às vezes me recordo de outro tom de azul muito marcante, mais que o caminhar do tempo extinguiu os lápis que o criaram, esse azul paterno impregnado nos olhos de meu pai deixaram-me ainda cedo. De cor em cor vi num raio de dez anos as ruas paulistanas se acinzentarem e escurecerem a os poucos inebriando um pouco mais meus pensamentos. Não posso deixar de lembrar dos brancos cata-ventos que brincávamos nos dias ensolarados; tem também as vezes que distraído nas aulas de matemática, fixava meus olhos no corpo da caneta Bic e entorpecido de um encanto, enxergava um lindo arco-íris. A república dos sonhos existe em cada um ao seu modo, às vezes guardado, às vezes escondidos e talvez este tenha sido o verdadeiro motivo que me levou a compor a “República dos sonhos” tentei edificar em cada linha a simbiose do real e o abstrato. Dia a dia nós descobrimos mais e mais cores, das primárias as secundárias elas encharcam a nossa tela imaginária, por vezes revejo na lembrança os castanhos cafunés de minha mãe e recordo ainda que já foram dourados; nos olhos a negra e assustadora sova seguida de um roxo célere e dolorido. Recentemente as cores secundárias invadiram minha mente ao correr meus olhos nos livros sagrados apócrifos, um violeta e ouro coloriram a república de meus sonhos. Todos os dias, mesmo que inconsciente saímos em busca de nossa cor interior, seja o carmesim das suaves carícias entre a noite, os cristalinos e róseos banhos a dois. A república dos sonhos coloreada de cores nos desvela os sabores dos perolados sorrisos existentes. Sendo assim eu pontuo com meu lápis multicolor um ponto final mimetizado de parágrafo para descerrar a prateada cortina desta República dos sonhos.
Darlan Alberto Tupinambá de Araújo Padilha/Dimythryus