Um conto para uma rosa amarela

Era uma vez, uma linda rosa amarela, que nasceu num lindo jardim cheio de flores de todas as cores. Ainda era um botãozinho e já demonstrava não ser uma rosinha qualquer: era muito perfumada. Parecia que ela sabia que tinha nascido para perfumar a vida das pessoas e ser amada, muito amada. Tão amada que as outras flores ficariam com inveja da sua cor amarela.

Mas quando foi desabrochando, começou a se comparar com as outras rosas dizendo que ela, a amarela, era a mais feia de todas. Por isso, começou a chorar e não conseguiu mais parar.

Do lado da rosa amarela, vivia uma linda margarida. Puxa, quantas pétalas tem uma margarida? Brincadeira de bem-me-quer não combina com tristeza, e as margaridas ficaram todas despetaladas por causa da rosa amarela. Então, uma margarida despetalada foi falar com ela. 

– Não chore assim, rosa amarela. Você é tão bela! 

– Não acredito em você, sua margarida mentirosa.

E ficou com raiva de todas as margaridas. Tanta raiva que chorou mais ainda.

Do outro lado da rosa amarela, vivia um pé de jasmim. Nossa, que delícia é o perfume do jasmim! Não combina com tristeza, e os jasmins ficaram todos desperfumados  por causa da rosa amarela. Então, um jasmim  desperfumado  foi falar com ela. 

– Não chore assim, rosa amarela. Você é tão bela! 

– Não acredito em você, seu jasmim mentiroso.

E ficou com raiva de todos os jasmins. Tanta raiva que chorou mais ainda.

Atrás da rosa amarela viviam as petúnias. Uau, que colorido intenso tem a petúnia! Não combina com tristeza, e as petúnias ficaram todas descoloridas por causa da rosa amarela. Então, uma petúnia descolorida foi falar com ela. 

– Não chore assim, rosa amarela. Você é tão bela! 

– Não acredito em você, sua petúnia mentirosa.

E ficou com raiva de todas as petúnias. Tanta raiva que chorou mais ainda.

Em frente dela vivia um cravo amarelo. Olha só, como é bonita a cor amarela! Não combina com tristeza, e os cravos ficaram com raiva. Sim, ficaram com muita raiva da rosa amarela. Porque a rosa amarela era a mais bela e, além disso, era uma flor  a-ma-re-la! Sem falar que, aquela choradeira estava deixando todas as flores despetaladas,  desperfumadas  e descoloridas. 

Então, um cravo bem amarelinho foi falar com ela. 

– Pare com essa choradeira. Nós os cravos estamos com raiva de você.

– Como? O quê? Por quê?

– Porque você chora à toa, pois é perfumada e bela, seu destino é enfeitar uma mesa chique ou a casa de uma família bem feliz. E os presentes? Quantas vezes você será um presente! Será tão amada...

A rosa amarela ficou desconfiada. Será que o cravo amarelo estava falando a verdade? Ficou pensativa, olhou para a rosa branca. Como queria ser ela, tão perfeita, tão branquinha. Ela sim era a mais feliz. Depois, olhou para a rosa cor-de-rosa e suspirou. Minha cor preferida. Tão linda, tão cor-de-rosinha. Isso sim é uma cor certa para rosa. Afinal, tem rosa até no nome. Ela sim é quem era a mais feliz.

– Não acredito em você, seu cravo amarelo e mentiroso! Eu sou a mais feia de todas. Ninguém gosta de mim, nem do meu choro e nem da minha cor amarela. Vou chorar sozinha e bem baixinho até as minhas pétalas amarelas murcharem e tudo secar.

Murchou. Ficou fraquinha e quase começou a  desamarelar . Mas, apareceu um estranho no jardim. Aproximou-se da rosa cor-de-rosa e esmagou uma pétala para cheirar. A pobrezinha chorou de dor, mas todos dormiam e ninguém ouvia a rosa cor-de-rosa chamar. Queria ajudar e tentou jogar seus espinhos, mas, estava tão fraca, tão murcha, tão  desamarelada , que não conseguiu.

A rosa cor-de-rosa foi cortada e levada embora, enquanto a rosa amarela se esforçava inutilmente para tentar impedir. Tentando se consolar, ficou imaginando que ela estava sendo levada para alegrar uma mesa muito chique, ou então, uma família feliz.

Mas quando o sol apareceu, apareceu também a dona do jardim. A rosa amarela nunca tinha prestado atenção nela, porque só vivia chorando, murchando e desamarelando . Ao ver que faltava uma rosa ela ficou brava, muito brava, porque amava as suas rosas.

Então, ela procurou, procurou e procurou.

Muito cansada, voltou ao jardim e chorou, chorou, chorou.

Chorou tanto que disse que a culpa era das rosas, pois deveriam ter protegido a rosa cor-de-rosa. E ficou com raiva de todas as rosas. Ficou com tanta raiva que disse que nunca mais plantaria rosas e tentou arrancar todas as rosas do jardim.

Mas os espinhos a deixaram toda machucada. Foi então que ela entendeu as rosas não tinham culpa e sentiu o perfume delas. Ela continuou triste, mas parou de chorar e mesmo com as mãos cheias de espinhos, cuidou das rosas que ficaram, principalmente da rosa amarela, que estava quase secando.

Então, a rosa amarela nunca mais desejou ser a rosa cor-de-rosa, nem a branca, nem quis ser outro tipo de flor e nem ter uma cor diferente. Parou de chorar e fez as pazes com as margaridas, com os jasmins, com as petúnias e também com os cravos amarelos. O cravo amarelo ficou tão feliz, tão feliz que ficou mais amarelo ainda.

– E agora, rosa amarela, vai chorar?

– Não vou mais chorar. Vou viver feliz, perfumada, linda e  a-ma-re-la!

Vera Morais

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