10 ANOS
DEZ ANOS DE BLOCOS: O DIA EM QUE A TORRE DE BABEL DESMORONOU
Quando eu tinha 10 anos, minha mãe me matriculou num colégio americano, de orientação metodista. Lembro bem, como se fosse hoje - apesar de tantos anos passados - de minha angústia, quando Miss Kolb, a professora de Bíblia, uma americana ruiva, pequena, doce e delicada, mas firme e determinada, como boa educadora metodista, nos leu, com tom de tristeza na voz, o texto bíblico da Torre de Babel. Pode Haver coisa mais dramática do que a falta de comunicação entre seres humanos?
Posso afirmar que fiquei muito entristecida, preocupada mesmo. Será que, algum dia, conseguiríamos destruir a Torre e nos comunicarmos plenamente? Tive sorte de ter pais de mente ampla, e principalmente minha mãe, que me criou, depois de ficar viúva, jamais censurou um livro ou filme, ao contrário, me incentivava para que experimentasse todos os frutos da árvore da cultura, do conhecimento e da comunicação. Uma mulher que viveu muito além de seu tempo, e fez do entendimento entre todos sua grande bandeira existencial e me transmitiu - juntamente com meus educadores americanos, que a liberdade, igualdade e fraternidade não são privilégio dos franceses, estandarte levantado durante sua gloriosa Revolução, mas patrimônio moral de toda a humanidade. E que este Bem se baseia no entendimento comum, na partilha do Imenso Patrimônio Cultural Humano.
Tantas recordações para comemorar, tantos parabéns a dar para Blocos em seu décimo aniversário. E, poderão vocês que me lêem se perguntar, o que tem a ver a Torre de Babel com Blocos? Aí está o xis da questão. Este site, devotado, dedicado e apaixonado pelas letras e a cultura em geral, brilhantemente comandado por Leila Miccolis e Urhacy Faustino, derruba o mito da Torre de Babel, ao colocar, ao alcance do mundo, via Internet, o que há de excelente em plagas literárias brasileiras. Caem as muralhas, rompe-se a torre, e entramos em contato com o mundo, que nos visita cada dia mais, num total, creio, de mais de 100 países que participam deste mundo extraordinário, onde letras, estejam onde estiverem, são as Divinas Rainhas, embriões da cultura e, mais importante que tudo: as únicas que podem fazer a real comunicação entre os seres humanos.
Parabéns, Blocos, por seus dez anos de vida e dez mil de cultura. Que se louve a força de Leila, de Urha, que matam um milhão de leões por dia para manter acesa a chama de seu ideal, fé e crença. Se minha querida professora Miss Kolb ainda estivesse entre nós, certamente leria Blocos, e exclamaria encantada, com seu engraçado sotaque americano, que sua certeza que, um dia, a Torre de Babel teria fim, se mostrara acertada. A Palavra triunfou sobre a Torre, com a ajuda da Tecnologia, sim, mas teve, como motor principal o desejo, o anseio da Comunicação.
Vida longa a Blocos!Marli Berg
colunista de Blocos Online