Eclipse solar total de 26 de fevereiro de 1998, fotografado em Aruba
J. C. Diniz. O fenômeno de 29 de março, só se repetirá no Brasil daqui a 40 anos.
Foto e explicação do site:http://p.php.uol.com.br/tropico/html/textos/2721,1.shl


O Sol negro

A próxima quarta-feira é um dia cheio de acontecimentos importantes. O primeiro deles, é que no dia 29 de março completam oito anos que estou aqui neste jornal (*) entretendo você aos domingos, numa convivência que tem me rendido boas amizades e cerca de quatrocentos textos já escritos. No ofício de lhe distrair, instigar, elevar, e – por que não – questionar, quando é o caso, tenho produzido crônicas e vez por outra artigos, onde boto a boca no trombone e reclamo do que penso que não está certo, sempre na defesa da Qualidade de Vida, da Liberdade, da Justiça e da Arte. Só me resta desejar que fiquemos juntos ainda por muito tempo, pois a convivência com você, meu caro leitor, é um casamento que vem dando muito certo, sem brigas e sem cobranças, coisa rara hoje em dia.

Mas o acontecimento mais significativo desta quarta-feira é mesmo o eclipse total do Sol, que vai ocorrer na manhã deste dia, na hora mesmo do nascer do Sol. É um acontecimento raro, esse tipo de eclipse. Tibau do Sul, aqui no Rio Grande do Norte, é o único lugar da costa brasileira onde ele pode ser visto na sua totalidade e já existe uma intensa mobilização de astrônomos oficiais e amadores em busca do melhor posto de observação para a contemplação desse espetacular fenômeno celeste.

Os antigos chineses acreditavam que quando o Sol entrava em eclipse era porque um dragão o estava devorando. Então, apavorados com a escuridão, atiravam flechas para o ar, pegavam tambores e faziam barulho para espantar o dragão que, amedrontado, acabava por se afastar e deixar o Sol retomar o brilho de sempre. É uma bela lição de vida, porque quando entramos nas nossas vidas em estado de eclipse, quando tudo parece negro e escuro, é só ter paciência e esperar, que a luz voltará outra vez.

Para saber mais sobre o eclipse, recomendo o site do astrônomo amador Helder da Rocha, paraibano de Campina Grande, onde ele disponibiliza uma apresentação mostrando como vai ser o eclipse. É uma simulação muito bem feita e didática, e você pode baixar sem medo para dentro da sua máquina pois não tem vírus. O endereço é <www.helderdarocha.com.br/astronomia>.

É o próprio Helder quem descreve o que vai acontecer nesta quarta feira: “No dia 29 de março de 2006, às 5 horas e 15 minutos, um pescador nas proximidades de Tibau do Sul observa o dia clarear à medida em que nasce. Mas, em vez do Sol, um espinho luminoso surge no oceano. Espantado, ele observa o nascer do espinho, que se estica e se inclina até revelar-se uma crescente incandescente. A crescente sobe no horizonte e vai gradualmente sumindo, até surgir o assustador Olho de Deus: um Sol negro, cercado por uma coroa brilhante. O dia, que estava a nascer, desaparece e cede seu lugar à noite. Mas a noite dura pouco. Um minuto e meio depois, o olho torna-se um anel de diamante, ofuscando os que ousavam encarar o astro-rei. O Sol vence, e inicia seu retorno. Durante os próximos 50 minutos, ele lentamente escapa da boca do dragão.”

Mas e se chover? É o próprio Helder da Rocha quem responde, em e-mail que me enviou e que eu faço questão de transcrever aqui: “Será que o generoso São José vai deixar abrir uma clareirazinha de nada nas nuvens do horizonte na aurora da próxima quarta-feira? Se eu puder sentir o terror primitivo de ver o olho escuro e a íris do Sol, terei na memória imagens que irão garantir uma reserva de felicidade por muitos anos, e mais histórias pra contar. Mas, se cair um temporal na hora do eclipse não vou ficar triste. Estar no Nordeste, em uma praia, já transborda meu recipiente de felicidade. E eu adoro chuva. Espero que São José goste de eclipses. Mas, se chover, vou rolar na areia feito criança e curtir a breve noite do mesmo jeito.”

Clotilde Tavares

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(*) N.E.: Jornal Tribuna do Norte (Natal/RN). Essa crônica foi publicada na coluna do dia 26 de março de 2006.
Envio da própria autora

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